sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Brit Floyd na Altice Arena – Um espetáculo que une gerações

Crítica escrita originalmente para o site Echo Boomer


A cópia é a melhor forma de elogio, já dizia o ditado popular. Mas é mais com o intuito de prestar um tributo, e não tanto o de copiar (pelo menos não com a conotação negativa que pode ser conferida ao termo), que Brit Floyd, banda-tributo, leva os grandes hits dos irrepetíveis Pink Floyd a palcos um pouco por todo o mundo.

Este ano, para celebrar os 45 anos do inesquecível álbum The Dark Side Of The Moon – vendeu mais de 45 milhões de cópias e é considerado como um dos melhores álbuns de rock progressivo alguma vez produzidos – o palco do Altice Arena, em Lisboa, recebeu uma recreação à altura do acontecimento. Um acontecimento que é nada mais, nada menos, que o último concerto desta tour dos Brit Floyd, depois de terem passado por 154 palcos diferentes. Ainda que o nome da tour seja “The Dark Side Of The Moon“, homónimo ao álbum que pretende homenagear, esta experiência de duas horas foi uma autêntica e deliciosa viagem no tempo e uma (re)visita a muitas canções, presentes em diversos álbuns de estúdio dos icónicos Pink Floyd.

“Shine On You Crazy Diamond” é o tema que faz as honras de abertura de um espetáculo que prometia e que, desde logo, começou a cumprir. O ambiente envolto em mística, os acordes das guitarras num enrolar delicioso a ecoar pelo espaço da arena, como que deixando um rasto atrás de si, as melodias nostálgicas e orgânicas – era isto mesmo que a alma estava a pedir; estavam reunidas as condições para aquecer uma noite bem fria.

“É ótimo estar de volta”, anunciou o vocalista e diretor musical, Damian Darlington, seguido de um “Obrigado” com o “r” bem enrolado, despertando o público do estado de quase transe no qual o tema anterior o tinha deixado. Para aligeirar um pouco o ambiente, segue-se “Arnold Lane”, no qual o saxofonista Ryan Saranich merece um destaque pela sua brilhante prestação a solo. Não tarda muito até que o ambiente seja de novo envolto em misticismo e que sejamos engolidos pela envolvência absoluta que caracterizam os temas de Pink Floyd – como “High Hopes” e “Sorrow”.

“Another Brick In The Wall” é, a seguir ao tema de abertura, o segundo momento alto da noite. Afinal, quem nunca cantarolou “We don’t need no education!”? Um clássico, pejado de rebeldia, e que contou com um brilhantíssimo solo de guitarra.

Em “Mother”, outro dos temas mais conhecidos, é possível ver como algumas letras da banda quase se tornaram “slogans”, com todo o público a cantar “Mother, should I run for president? Mother, should I trust the government?” – e com Damian a cantar um “Não” ressonante como resposta a cada pergunta. A propósito deste exemplo de uma letra que se tornou quase simbólica, é de revelar a natureza sociopolítica que caracteriza as composições e as letras de Pink Floyd, presente em temas como “A Great Day For Freedom”, “Southhampton Dock” e “Dogs Of War” – o que mostra que tudo isto é muito mais do que (muito boa) música ou espetáculos com efeitos visuais espectaculares e luzes de lazer. Pink Floyd é História em forma de música.


Fotos: Ritmos&Blues

A sequência “Speak To Me/Breathe” e “Time” foi uma feliz escolha de alinhamento que, entrelaçadas, num continuum psicadélico, compreendem em si toda a magia do álbum The Dark Side Of The Moon – com a devida salvaguarda para a divertida e rock n’ roll “Money”, já previamente tocada.

“The Great Gig In The Sky” surge, num grito (literalmente) de (des)esperança e resignação perante a efemeridade da vida, cuja única letra é falada no início, “I’m not afraid of dying. Anytime I’ll do, I don’t mind. Why should I be afraid of dying? There’s no reason for it, we gotta go sometime”. A vocalista Angela Cervantes esteve irrepreensível na sua prestação. Uma performance transcendente.

Mas não há tréguas, ainda. “Have a Cigar”, “The Final Cut”, “Wish You Were Here” (denunciada desde um primeiro momento com o inconfundível acorde de guitarra) e “Confortably Numb” (num intercalar entre momentos mais contidos e momentos de explosão), foram outros três grandes pontos altos da noite, sendo, igualmente, três dos temas mais acarinhados pelo público.

Todo este repertório foi acentuado com os temas do encore – uma “Brain Damage” que conflui com uma “Eclipse”, num autêntico culminar de sensações fortes; e, por fim, “Run Like Hell”.

A loucura em forma de rock. “Até faz mexer o coração!”, dizia a pessoa que me acompanhava nesta noite.

Ainda que tenha sido um concerto cheio em todos os sentidos, ficaram a faltar dois temas essenciais: “Us & Them” e “Any Colour You Like”.

Eis um espetáculo que une gerações. Fãs de 70 anos, que assistiram aos concertos originais da banda, e jovens de 20 anos, que estão agora a descobrir pela primeira vez as letras inventivas e filosóficas de Roger Waters, partilham o mesmo espaço.

No topo do fenómeno melódico e lírico dos temas de Pink Floyd, a arte exibida por cada vocalista e instrumentalista foi impecável. Através das luzes e visuais cativantes, chegamos quase à utopia musical. Pink Floyd e Brit Floyd são lembretes de como a música pode ser omnipotente na sua habilitade de transportar e conectar. Unir, firmar e imortalizar. No final de contas, é a coisa mais próxima que temos à magia, e este espectáculo relembrou-nos bem disso.

E é isto que, verdadeiramente, define uma banda como sendo intemporal.


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Tribalistas – 15 anos depois, é como se nunca tivessem parado de criar música

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Admitidamente impreparados, foi 15 anos depois do lançamento do seu primeiro álbum que a banda de música pop brasileira, Tribalistas, se apresentou pela primeira vez ao vivo em Portugal. Impreparados, pelo menos assim o admitem em várias entrevistas, os três artistas que compõem este trio, confessando que o primeiro álbum surgiu de forma totalmente espontânea e que, sem qualquer expetativa, vendeu qualquer coisa como cinco milhões de discos. Fazer música sempre foi algo espontâneo, não planeado, e fruto de uma paixão partilhada pelos três.

Corria o ano de 2003 quando o single “Velha Infância” chegou e veio para ficar, apaixonando corações do público português – para nunca mais ser esquecido. Este é, no entanto, apenas uma das 56 músicas que Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes compuseram, sempre – e isso é notório – com grande genuinidade, paixão e amizade que os une há 25 anos e que vai bem para além da música. Em 2017, o trio já havia voltado a apresentar novo trabalho, com o lançamento de novo álbum, homónimo ao primeiro: simplesmente, Tribalistas.


Embora a sonoridade seja consistente entre os dois álbuns – apesar do tempo que entre eles dista – é de destacar a natureza mais sociopolítica dos temas abordados no álbum mais recente, em contraste com uma mensagem mais positiva que caracteriza o primeiro, diferença esta que resulta das diferentes realidades que o país atravessava na altura e atravessa agora.

Ainda assim, é com essa tal naturalidade que a banda aborda temas sérios de forma leve. É fluidez o adjetivo que melhor caracteriza as melodias das suas canções, num mix perfeito entre música popular brasileira, bossa nova, pop e samba. Foi com entusiasmo que o concerto abriu com os temas “Tribalismo” e “Carnavália”, ambos do primeiro álbum, numa explosão de energia e boa disposição, tão natural dos nossos irmãos brasileiros! “Agora é a nossa vez de colonizar vocês”, bem avisou Arnaldo Antunes logo após a terceira atuação, “Um Só” (esta, já do seu trabalho mais recente, de 2017). E colonizaram… Com espírito de festa!

E é com muita, muita graciosidade que chega suavemente em temas como “Anjo da Guarda”, “Um a Um” e “Água também é Mar” (admitido, ao vivo, por Marisa, que este é um dos temas mais “pré-históricos” composto pelo trio ainda antes de surgir o primeiro álbum), numa sonoridade tão reconfortante que podiam perfeitamente ser canções de embalar.

Entre os temas mais atuais, são de destacar “Fora da Memória”, “Diáspora”, “Ânima” e “Aliança” – valendo a pena destacar que é completamente heartwarming e uma delícia para os nossos ouvidos o equilíbrio perfeito e harmonioso entre a voz dos três artistas: a voz suave, como uma brisa do mar, de Marisa Monte; o timbre profundo, como um baixo humano, de Arnaldo Antunes; o tom amadeirado e quente da voz de Carlinhos Brown. Os três, numa harmonia perfeita, numa só voz.

Num concerto já, por esta altura, completamente impregnado de nostalgia, e para ajudar ainda mais, segue-se o tema “Velha Infância” – sim, aquele, que ficou eternizado como das baladas mais bonitas da década de 2000. Não tiremos mérito algum, porém, aos igualmente encantadores e românticos temas “É Você” e “Carnalismo”. Com estas três de rajada, quem ainda não chorava só podia ter uma pedra no lugar do coração. 


Não foram descurados vários temas apenas de Marisa, nomeadamente a muitíssimo conhecida “Amor I Love You”, a poética “Vilarejo”, a pejada de tons western “Infinito Particular”, a característica samba “Universo ao meu Redor”, a romântica “Depois” e a doce “Até Parece / Não é Fácil”. Mais doce ainda é “Lá de longe”, que chega e passa sorrateira, contrastando com a crua “Trabalive”. 



25 músicas e duas horas de concerto depois, havia ainda um hit em falta. O trio não podia desiludir, e não desiludiu. “Já Sei Namorar”, pois claro, estava (finalmente) ali para fazer todo o mundo cantar, dançar e abraçar muito! O “uh uh uh uh” característico ficou a ecoar por todo o pavilhão do Altice Arena… Até que tudo termina no clímax do encore, com a repetição dos temas “Velha Infância” e, tal como havia aberto o concerto, “Tribalismo”. 

Preparados ou não, com mais ou menos tempo entre si, o que é certo é que, quando Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Marisa Monte se juntam para compor, a humanidade agradece!


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Best Youth na Timeout Market Lisboa: Como o synth-pop nos conquistou


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Imagem: Público

Crítica escrita pelo João Cunha para o site Echo Boomer.

O Timeout Market Lisboa recebeu os Best Youth na passada sexta-feira para uma noite onde o synth-popreinou. O mote foi a apresentação do novo álbum Cherry Domino, o segundo longa-duração da banda, lançado digitalmente em junho passado. De notar que entre o álbum de estreia Highway Moon e este distam três anos – entre os lançamentos houve ainda uma reedição desse primeiro álbum no ano passado, com direito a mais duas novas canções -, mas aqui o que interessa é a qualidade.


E é na qualidade que Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas dos Best Youth primam. Se no álbum de estreia foram alvo de críticas extremamente positivas, a tendência deverá permanecer com este Cherry Domino. A juntar à festa foi também a apresentação de quem os acompanha ao vivo, uma verdadeira nata musical portuense, a saber: Fernando Sousa (X-Wife), Miguel Ferreira (Clã) e Tito Romão (Salto).


A aposta mostrou-se ganha logo à primeira canção: entraram de mansinho com “Feelings”, deste novo álbum, uma mostra bastante clara de que a sonoridade dos Best Youth não mudou, apenas evoluiu, para melhor. Isso mesmo nos confirmou “New Boy New Girl”, canção que se seguiu, onde a presente melancolia nas palavras de Catarina Salinas era envolvida numa canção que podia ser uma lullaby dos anos 80.


A exploração por Cherry Domino continua pela sublime “Nightfalls”, exercício pop onde a voz de Catarina Salinas assenta lindamente no meio do sintetizadores e das drum-machines. O ingrediente que sobressai é, claramente, a facilidade com que as canções do novo álbum nos metem a dançar.


Aproveitando o mote, é-nos apresentado de seguida “I’m Still Your Girl”, single de 2013, a primeira incursão no espólio que os Best Youth criaram antes de Cherry Domino seguida de “Nice Face”, fruto da colaboração com os We Trust no grupo There Must Be a Place, canção sobejamente conhecida e ouvida do púlbico português. Por esta altura do concerto, os Best Youth já nos tinham conquistado sem qualquer sombra de dúvida: a voz sussurrante e sexy de Catarina Salinas conjugava-se na perfeição com as composições de Ed Rocha Gonçalves e a prestação do grupo era cativante.


A setlist foi muito bem escolhida e, conscientemente ou não, o concerto foi crescendo em intensidade perante os temas apresentados. Seguiu-se “Part of the Noise”, uma colaboração brilhante com Moullinex no novo álbum e uma forma nos levar de volta ao synthpop (e de nos pôr a dançar com facilidade, já agora!), a fabulástica “Red Diamond” e “Black Eyes” – ambas do Highway Moon – e chegamos a “Hang Out”: tempo para uma breve menção, por parte da banda, ao primeiro single da carreira, que teve várias versões até àquela que nos foi aqui apresentada. Seguiram-se “Sunbird” e “Renaissance”- inclusões na versão reeditada de Highway Moon – bem-dispostas e exemplos de um pop descomprometido, mas extremamente bem conseguido, para fechar, por ora, o baú das memórias, pois o mote (ainda) era o álbum Cherry Domino.


A entrada de “Highlights” releva bem a evolução dos Best Youth na construção de canções pop. As referências e lembranças à tão-presente década 80 não será motivo para minorizar a obra dos Best Youth, antes pelo contrário, é motivo de orgulho tal como nos mostra “Coincidence”, a balada que trouxe, por breves momentos, a calmaria ao público do Timeout Market.


Mas o tempo escasseava; “Desintegrate” – tema que fecha o novo álbum – com uma tonalidade subliminarmente jazzy, mas altamente eficaz, e onde a voz de Catarina Salinas subtilmente nos guia num refrão viciante fechou a sequência de novidades.


Para o final ficaram os trunfos, as que faltavam ouvir – as que queríamos ouvir! – primeiro o single que antecedeu Cherry Blossom: o magnífico “Midnight Rain”, prova brilhante do synth pop dos Best Youth, desde os sintetizadores reminiscentes aos New Order aos acordes da guitarra límpida de Ed Rocha Gonçalves, que podiam lembrar os The Sundays. A fechar, a mais-do-que-aclamada “Mirrorball”; peça-chave do primeiro álbum e, sem dúvida, a mais aguardada. Não houve dúvidas: a noite tinha sido ganha. Pelos Best Youth e por nós. E queríamos mais.

Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salina, muito envergonhadamente, disseram-nos que não tinham preparado encore, mas ainda ofereceram “When All Lights Are Down”, o final de um concerto que não serviu apenas para apresentar o novo álbum dos Best Youth, mas para os (re)confirmar como um dos projetos de música pop made in Portugal mais interessantes desta década.

Será seguro aconselhar os Best Youth a preparar encores doravante. Diz que é preciso.



sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Album Review | Ariana Grande - Sweetener

A Ariana Grande foi uma descoberta relativamente recente para mim (não daquelas all-time-favourite-divas como a Christina Aguilera que oiço quase desde a infância), com o álbum Dangerous Woman, acerca do qual inclusivamente já tinha feito uma crítica aqui. Os outros dois álbuns que ela tinha lançado antes deste, confesso, não prestei muita atenção.

Apesar de ser uma descoberta recente, Ariana prendeu-me desde a primeira audição, com a sua doçura, que é algo que, na minha opinião, a caracteriza; até mesmo nos temas mais "agressivos", ela continua doce sempre. E só de ouvir a voz dela, confesso, apetece-me abraçá-la!

Então, Sweetener não é um título perfeito para o novo álbum dela?! É, sim senhora :D


Ariana Grande - No Tears Left To Cry press shotSweetener é, então, o quarto álbum de estúdio da artista, o primeiro após o acontecimento traumatizante que foi o ataque terrorista que decorreu durante o seu concerto em Manchester, com uma mensagem de não-rendição às tragédias e de "a vida continua", com o poder restaurativo da música.

Não acho que este trabalho esteja ao mesmo nível do Dangerous Woman. Ainda assim, está muito bem conseguido!

Com um álbum pejado de uma alegria discreta (low-key joy) constante, Ariana surpreende-me com o domínio vocal que tem, sendo capaz de passar rapidamente de um registo mais forte para um quase suspiro. E, neste aspecto, consigo compará-la à grandiosa Mariah Carey. Diria até que a Ariana é a Mariah Carey deste século, em muito me faz lembrar (as oscilações vocais, a doçura!)

Sweetener é um álbum dreamy e cheio de nuances deliciosas. Começa com uma faixa em acapella, com a sua inconfundível voz, Raindrops (An Angel Cried), seguindo-se Blazed, faixa que já não me chama tanto.

E a propósito de Blazed, que foi produzida por Pharrel Williams, é importante destacar que 6 faixas deste álbum contaram com a colaboração/produção/escrita do artista, marcadas por idiossincrasias funk-lite que elevam as estruturas musicais mais convencionais do disco. Em Blazed, como já anteriormente referido, e REM, por exemplo, detectamos logo a presença de Pharrel.

Escrita por Beyoncé, esta é uma das minhas faixas favoritas! Tão dreamy, tão joyful, tão leve e deliciosa. As diferentes texturas e camadas em tom de quase brincadeira, os tons gospel, a execução quase rap de Ariana. Esta música fala de sonhos e de não querer acordar deles.

(Infelizmente, a faixa REM ainda não está disponível para audição na internet)

Segue-se God Is a Woman, que é já um dos hits mais atuais!

Cheia de energia feminina, Ariana aborda novamente o tema da Mulher - no álbum anterior, com o single "Dangerous Woman", e neste, com o single "God is a Woman".

God is a Woman é um tema desafiante, que acaba por misturar religião com sexualidade, uma vez que está subjacente que uma experiência sexual é algo divino, e subvertendo o "pecado do sexo" como uma sugestão de que o mesmo tem propriedades redentoras, ao invés do que está estabelecido na religião.

A faixa é de empoderamento, dominância feminina e liberação sexual. Ariana canta a sua rebelião contra a expectativa, "And I can be all the things you told me not to be", e desafia o status quo de que deus é uma figura masculina e paternal.

A faixa homónima ao nome do álbum, Sweetener, volta de novo à onda doce de Ariana, arriscando eu dizer que toda ela tem um certo tom natalício, e com sintetizadores, no refrão, que nos transportam de volta para os anos 90 (algo que tem sido tendência da música comercial hoje em dia, ir reciclar sonoridades que eram populares nesta década). Também, ainda no refrão, a line "get it, hit it, flip it" repetida é verdadeiramente catchy!

Successful e Everytime, faixas que se seguem, muito honestamente não me dizem nada e são pontos fracos deste álbum. Successful é só arrogância e auto-promoção sem qualquer conteúdo.  E Everytime, simplesmente não me convence.

Breathin' é outro dos hits mais atuais, e das principais faixas do álbum. Com uma sonoridade muito expansiva e, na minha opinião, até algo futurista, é muito "anos 2000", transmite-me um feeling altamente imersivo. A-dorooooo, mais uma vez, as passagens vocais repentinas dela, particularmente nesta faixa na line "Time goes by and I can't control my mind".



No Tears Left to Cry surge novamente com um tom futurista e atual, com uma forte mensagem de "I'm over it". Sofreu, chorou, e agora está num state of mind em que já nem lágrimas tem, mas não quer sair desse estado; talvez um estado de nirvana? Um sentimento de descoberta de uma nova fase de felicidade após um período de sofrimento. She's livin' it and she's lovin' it.


Right now, I'm in a state of mind

I wanna be in, like, all the time

Ain't got no tears left to cry

So I'm pickin' it up, pickin' it up (oh yeah)

I'm lovin', I'm livin', I'm pickin' it up



Borderline surge como uma canção que parece que tem pressa de acabar. Tenho mixed feelings em relação a esta faixa! Se, por um lado, adoro aquela combinação sintetizador-batida, por outro lado, há algo na sua sonoridade que me faz lembrar um anúncio de TV. 

Better Off é a balada do álbum, toda ela, lá está, com aquele ar queridinho, tão característico dela. Uma balada eletrónica calma, não das melhores que já ouvi, mas que aquece o coração!




(snippet da faixa)

Goodnight N Go, bem como Pete Davidson, são também duas faixas que não me aquecem nem me arrefecem.

E o disco termina com Get Well Soon, para mim, também uma das melhores faixas! Muito jazzy, muito smooth, transporta-me para um outro mundo, o mundo em que estou a cantar com ela.


(snippet da faixa)

De um modo geral, achei um trabalho extremamente coeso, que se coaduna com e mantém-se fiel à identidade de Ariana (a que ela passa para o público, que me parece ser genuína). Gosto mais do álbum anterior, Dangerous Woman, sem dúvida. Mas Sweetener é, e como o próprio nome indica, sweet mais do que suficiente para já me ter prendido e ser o meu álbum de eleição em repeat desde que saiu!



terça-feira, 24 de julho de 2018

Super Bock Super Rock 2018 | The The: Matt Johnson e a sua génese

Review do concerto de The The, no festival Super Bock Super Bock 2018, para o site Echo Boomer.
Autoria: João Cunha

Super Bock Super Rock 2018 | The The: Matt Johnson e a sua génese

Disse Matt Johnson, o frontman e mente por detrás dos The The – grupo nascido e crescido nos 80’s, dos quais soube aproveitar uma série de boas referências – que a primeira cidade que tem recordação de visitar é, precisamente, Lisboa, numa visita com os pais. Pois nós já praticamente não tínhamos recordação da última passagem deste por terras lusas: são precisos 18 anos para regressarmos à última atuação dos The The em terras lusas – inseridos no Paredes de Coura – ou ainda uns bons 29 anos (1989!) desde um concerto no Coliseu de Lisboa. Estas datas traduzem-se numa plateia cuja média de idade já traz alguma história, não obstante um ou grupo outro jovem que, incrível e genuinamente, vibrava com igual intensidade. 

No ano passado, Matt Johnson voltou a montar o seu ensemble para um novo single (“We Can’t Stop What’s Coming”) e acaba por dar azo a uma tournée onde se inseria este concerto dado no Palco EDP. Munidos de uma discografia que, claramente, poderia ser dividida em mais que um concerto best of, os The The deram um bom espectáculo, muito bem executado e sem quaisquer subterfúgios. Tendo seis álbuns para percorrer – e sendo os primeiros três os mais desejados (presunção de autor!) seria de esperar que o concerto se focasse nestes. 

Abrindo a performance com “Global Eyes” – dum, talvez, menos amado Nakedself editado em 2000 – foi isso mesmo que transmitiram: a obra dos The The não se cinge apenas aos temas mais antigos e que há canções (algumas sublimes!) que fizeram de Matt Johnson e os seus The The nomes incontornáveis da cena alternativa britânica dos anos 80. 

Com uma visível boa disposição, Matt Johnson mostrou que, incrivelmente mais de 30 anos depois de se estrear, a sua voz continua a debitar-nos a sua magia – a força que guia as melodias dos The The – e que estes temas continuam a encaixar-se em temas extremamente atuais, com uma sonoridade que se preservou muito bem (nuns casos mais que outros).

The The no Super Bock Super Rock 2018

Ao segundo tema “Sweet Bird of Truth” (do álbum Infected, 1986) Matt Johnson lembra-nos que, nesta altura, o envolvimento dos EUA no Médio-Oriente era também tema emergente da altura, servido num pop-post-punk altamente viciante. Não nos proporcionando a mesma riqueza das versões em estúdio, todos os temas foram tocados irrepreensivelmente mostrando que o grupo vinha bem preparado. 

Fomos ainda servidos com algumas raridades – neste caso um single perdido – com “Flesh and Bones” (1985) e ainda temas dos álbuns Mind Bomb (1989) – singela aparição de “Armaggedon Days Are Here (again)” – e Dusk (1992), para além de outros temas dos álbuns acima citados. Pelo meio houve ainda direito à brilhante dicotomia ditada pelas “This Is The Night” e “This is The Day” – sendo esta a primeira, e também mais famosa, incursão pelo álbum de estreia Soul Mining (1983). 

Chegados à parte final, esperava-nos uma fabulosa tríade: “Infected”, “I’ve Been Waitin’ For Tomorrow (All of My Life)” e “Uncertain Smile” – onde, com alguma desilusão, se nota que a mistura de som não foi a melhor, pois o espetacular solo de piano (uma obra-prima composta e tocada por Jools Holland no original) esteve, apesar de bem executado, assoberbado pelo som dos restantes instrumentos. Ainda assim, a chave de ouro. 

Dadas as poucas oportunidades que tivemos de os ver, penso que os The The cumpriram a quem os desejava voltar a ver, ou – tal como o autor – nunca os tinham visto. Ficaram a faltar outros grandes trunfos – “The Sinking Feeling”, “Good Morning Beautiful” ou “Out Of The Blue (Into the Fire)”, só para citar alguns – que fariam este concerto mais grandioso, mas tais composições têm sido deixadas à parte nesta tourneé. Talvez Matt Johnson não estivesse para aí virado. 

Maybe next time…


terça-feira, 10 de julho de 2018

Christina Aguilera - Liberation | Album Review

Aviso à navegação: esta review está longe de ser imparcial. :P


Finalmente chegou o tão aguardado oitavo álbum de estúdio de Christina Aguilera! Como uma das minhas artistas favoritas de sempre, desde o Stripped (que ouvia, cantava e sabia de cor de trás para a frente, aos 12 anos de idade, e ainda hoje, aos 28, é dos meus álbuns de eleição e não dispenso cantar uma boa “Walk Away” com ela), não o ouvi de imediato assim que saiu, mas nas últimas duas semanas não tenho ouvido outra coisa. Tinha de o conhecer ao detalhe!

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Para mim, o melhor álbum dela foi mesmo o Stripped e ainda não foi este seu mais recente trabalho que tirou o outro do primeiro lugar no pódio. Também adorei o Back to Basics mas, depois, o Bionic e o Lotus foram uma regressão. Nunca me convenceram a 100%, por mais que tentasse. Então, a expectativa era alta para este novo trabalho – Liberation – mas sempre com um pé atrás.

Surpreendeu pela positiva, mas ao mesmo tempo, deixou um pouco a desejar em alguns aspectos. Há músicas que amo e outras que não me dizem nada (e, ainda, uma que detesto mesmo). Mas de um modo geral, gostei muito deste álbum, só acho que tem poucas músicas. 15 músicas, em que 4 são intros; então, só dá 11 músicas completas. Chego ao fim do álbum com vontade que houvesse pelo menos mais 3 ou 4.

Mas antes de ir já para o que falta no fim, comecemos pelo início!

Liberation

Interlude bonito, mas é só isso (já foi feito, já foi ouvido, está uma introdução bonita mas não passa muito disso; gostava que tivesse mais a voz dela, em vez de ser só instrumental – tipo o interlude Love Embrace, por exemplo).


Searching for Maria & Maria
Incluo estas duas faixas numa só, visto que a primeira é o interlude da segunda. Maria reflecte o sentimento de Christina (cujo segundo nome próprio é Maria) de se ter perdido de si própria ao longo do tempo. No Twitter, a artista partilhou que “Maria is a homage to the lost side of herself”. Enquanto que, em Stripped, a ideia que imperava era a de ser ela mesmo enquanto artista (contrariando o ter começado a sua carreira ao vender a sua alma), ao longo da sua carreira acabou por se perder um pouco e agora procura novamente o espírito dela. Recorrendo à personagem de Maria do filme The Sound of Music (A Música no Coração, em português), utiliza-a como uma metáfora para uma versão mais jovem e inocente de si mesma, reflectindo sobre o impacto que uma vida sob a luz dos holofotes teve sobre ela, trazendo uma espécie de crise de identidade provocada pela fama.

All my life, wouldn't give up
Was too young to know the difference
How did I get so low?
When did I turn so cold
Inside of my own mind, I believe my own lies
I'm facing the mirror

Where, where, where is Maria?
Why, why, why don't I see her?
I, I just wanna see her
Why, why, why don't I see her?
I, I just need to see ya, Maria


Definitivamente, um momento introspectivo. Em termos sonoros, na minha opinião, é uma das melhores, senão mesmo a melhor faixa do álbum. É completa em todos os sentidos, e em certos momentos até me remete um pouco para a sua faixa Mercy (do álbum Back2Basics), com alusões a um ser divino e a uma espécie de salvação (“Oh, my lord / Can you take away this heavy load? / I can't carry it anymore / I'm callin' an angel, where is my saviour"). 

Em termos de voz, nem vale a pena destacar muito mais que, para mim, é a melhor voz pop de sempre. Algo que está bem presente no grito quase de revolta dela na bridge "Can you hear me calling? My whole world is falling!".

Dificilmente alguém a conseguirá suplantar neste campo. A voz dela é simplesmente per-fei-ta. Sem qualquer imparcialidade da minha parte! :P

Sick Of Sittin'

Aqui está a única música deste álbum que simplesmente não gosto nada. Numa tentativa de ter uma Fighter neste álbum também, mas Sick Of Sittin' não chega aos calcanhares de Fighter. Então, não tendo nada de bom a dizer, não direi mais nada...

Dreamers

Mais uma intro, com diversas vozes de crianças a dizer o que querem ser quando crescerem. Achei fofo, mas só isso. Não é uma música. Faz sentido, though, preceder a faixa seguinte...

Fall in Line

E duas rainhas juntaram-se e fizeram magia, nesta canção em conjunto com a não menos diva Demi Lovato! Outra faixa que, para mim, é das melhores do álbum. O movimento #MeToo está aqui bem presente, com uma mensagem bem forte de empoderamento feminino – assim, no seguimento de Dreamers, Aguilera e Lovato cantam a plenos pulmões que não foram feitas para simplesmente ficarem “na linha” (“I wasn’t made to fall in line”). Um incentivo a que corramos atrás dos nossos sonhos.

Ainda que Demi seja, também ela, uma pop star de excelência, nesta música a voz de Christina claramente acaba por dominar bastante. Lá está, dificilmente alguém suplanta a rainha Christina. E eu gosto imenso da Demi, também.

Right Moves

Depois de um início de álbum bem introspectivo, surge uma faixa bem mais light, com uma vibe meio hazy e com muitas influências reggae. Um pouco como "Get high on the beach" de Lana del Rey. É uma música girinha, mas que fica longe de me deslumbrar.

Like I Do

Esta foi amor à primeira audição. Aquele início bem prolongado, aquela vibe badass que eu gosto tanto nela, o facto da voz dela só entrar após o primeiro minuto completo e ser uma lufada de ar fresco. A referência ao grande Marvin Gaye e a sua tão famosa música “Let’s Get It On”. A voz dela utilizada de forma doce mas fierce ao mesmo tempo, as estrofes em rap de GoldLink, aquela batida constante, aquele sintetizador ousado. É uma música extremamente bem conseguida, do início ao fim, completamente viciante – daquelas que oiço em repeat, repeat e repeat sem me cansar!

Deserve

À semelhança de Masochist (que vou falar mais à frente, mas que referencio agora pois são duas faixas que, a meu ver, são equiparáveis), Deserve é uma balada eletrónica minimalista. Nada de extraordinário, mas bonitinha, catchy, que fica no ouvido. A-doro o efeito da voz dela nesta faixa.

Twice

Absolutamente uma das melhores faixas deste álbum. Com um início em acapella que me faz arrepiar sempre, começa o piano e as lágrimas querem rolar. Nem consigo descrever o quanto esta música me toca, a sério. A primeira estrofe, só a voz dela e o piano, e finalmente o refrão, em coro. A letra, extremamente triste e angustiosa, de quem “encontrou o preço do amor e perdeu a cabeça”. Continuo a achar que é nas baladas que Christina é melhor. Aquela voz tão suave quando tem de ser, e tão cheia e powerful quando tem de ser também. Mesmo só em acapella esta música seria fabulosa. Não adoro, AMO!

I Don’t Need It Anymore

Outra intro, só em acapella, e em coro. A line “I Don’t Need It Anymore” já tinha sido incluída na faixa Sick Of Sittin' mas escusado será dizer que, para mim, fica bem melhor neste interlude :P

Accelarate

Christina trying to be 2018. Well, she tried and she did it. Aqui está uma faixa extremamente atual mas que, a meu ver, não foi um tiro certeiro para ela. Bom, tenho mixed feelings! A primeira vez que ouvi na rádio, pensei, “Isto é a minha Christina?”. Muito básico. Gosto do embalamento e da melodia da estrofe “I be with my ladies you can find me there / Try to play us, we gon' start a riot up in here”, gosto (bastante) da bridge em rap de 2 Chainz, gosto muito da segunda bridge com aquele “Uh Uh Uh” básico e sintetizadores a acompanhar e adoro o final (os últimos 20 segundos).
Mas detesto a voz meio drunk do Ty Dolla $ign ali pelo meio da voz dela, acho a música pouco melódica, não acho piada ao refrão e acho a letra muito básica. Portanto... Ok, é um hit de rádio atual com alguma piada, mas fica-se só por aí. É que ela é capaz (e como o mostra noutras faixas deste álbum) de muito melhor.

Pipe

Sexy do início ao fim. Muito smooth, muito RnB, muito aliciante. Aquela batida constante e deliciosa. Não é das melhores, though! É das poucas canções em que Christina não puxa pela voz, mantendo um registo sempre estável e muito suave.

Masochist

Como já tinha referenciado mais acima, equiparando a “Deserve”, outra balada eletrónica. Desta feita, com uma letra que remete para a submissão dela em se deixar dominar por alguém que a magoa, culpabilizando-se por isso, sendo assim, some kind of masochist. “Cause loving you is so bad for me, but I just can’t walk away”.

Em termos de letra, sempre que oiço esta música lembro-me da sua icónica (e uma das minhas favoritas do álbum Stripped) música Walk Away. Parece ser uma constante, na vida de Christina, o dilema de estar em situações dolorosas das quais não consegue sair, não é? :P

Unless It’s With You

Mais uma que está no meu top 3 de melhores faixas deste álbum. Esta canção é, simplesmente, perfeita, para mim.

Em termos de letra, e apesar de ser na sua generalidade bastante “cliché” em termos de cheesyness de uma lovesong, gosto do twist do título e do final do refrão: “Cause I don’t wanna get married, unless it’s with you, unless it’s with you”. Podia ter dito simplesmente “I only wanna marry you”, mas inverteu a letra para passar a mesma mensagem.

A voz dela aqui, mais uma vez, completamente flawless. O que para muitos é “gritaria” (e compreendo), para mim é a melhor voz pop do mundo a manifestar-se em todo o seu esplendor.

E os coros e todo o ambiente de balada pop romântica dos anos 90 (em muitas coisas me faz lembrar músicas da Mariah Carey, por exemplo).

De todas as músicas, esta é a que já ouvi mais vezes. Para aí umas 3748.

Unless It's With You é um fim perfeito para este álbum, mas fico sempre com aquela sensação de que faltam mais algumas faixas. Está demasiado curto, o álbum.


Posso dizer que Liberation é, a partir de agora, o meu segundo álbum favorito de Christina. Gosto menos do que o Stripped, mais mais do que o Back2Basics - os 3 melhores álbuns dela, na minha opinião. Continuo a ficar deslumbrada com a voz dela (oiço tanto e canto tanto, que tenho tics de voz dela!!!). Ela continua a arrepiar-me e até a chorar (neste caso, com a faixa Twice).

Amava que ela viesse dar um concerto e Portugal e nem olharia ao preço do bilhete. Se ela vier a algum país da Europa, sou bem capaz de voar até lá só para a ver ao vivo! Nunca vi!


terça-feira, 3 de julho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Katy Perry – Um mundo popsicle no parque da Bela Vista

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Ainda que o slogan do Rock in Rio Lisboa seja “A cidade do rock”, a edição de 2018 claramente ficou marcada pelo Pop. Foi um dos géneros predominantes do cartaz principal e, depois de Demi Lovato, Bruno Mars, Haille Steinfield e Jessie J, o último dia do festival termina em grande com a atuação de Katy Perry. 



Com um total de 23 músicas e nada menos do que seis mudanças de roupa (cada outfit mais extravagante que o outro), a artista mostrou que, para a sua primeira vez na versão portuguesa deste festival, dedicou-se à preparação do show e não se mostrou nada menos do que exuberante. Uma autêntica pop star

O concerto abre com um snippet de um tema do novo álbum, Witness, em que Katy surge por detrás de uma nuvem de fumo branco. Desafiando o público desde um primeiro momento, com a pergunta “Will you be my witness tonight?”, segue para outro tema do novo álbum, “Roulette”, com uma outra provocação, “Will you roll the dice?”. E chovem, sobre o público, confettis com as formas dos naipes de um baralho de cartas. 

Foto: Agência Zero

Se começa o seu concerto com provocações, continua com uma vibe meio obscura, meio sensualizada, com o tema “Dark Horse” – mostrando aqui o lado badass de Katy (que, usualmente, tende a ser mais doce, e cotton-candy-like). De um modo geral, pode-se dizer que Katy é uma artista versátil, encarnando várias personagens, vários estilos tanto visuais como musicais, e isso foi transposto para este concerto. Temos como exemplos clássicos o teenage pop-rock, meio revoltado (com temas como “Part Of Me”) e a versão mais dance eletrónica e muito popsicle pop como “Chained to The Rythm”, “Last Friday Night” e “California Girls”. O concerto foi completo, e até teve direito a uma mascote (muito fofa!) em forma de tubarão durante a música “Teenage Dream”. E, claro, ao longo de toda a atuação, acompanham Katy performers de dança, com outfits extravagantes que tornaram o espectáculo visualmente mais rico. 

O seu primeiro hit “I Kissed a Girl” surge exatamente a meio do concerto e é um momento de grande euforia, sobretudo porque neste tema a artista pousa sobre si uma bandeira arco-íris, símbolo da causa LGTB – passando uma mensagem importante e atual, de inclusão, tolerância e aceitação. Katy sabe que tem influência sobre as camadas mais jovens e utiliza a sua popularidade para promover princípios importantes. Foi uma atitude de louvar e aplaudir. Aliás, ainda que possa ser uma “moda”, a verdade é que muitos artistas hoje em dia utilizam a sua influência para defender mensagens importantes; Jessie J, que pisou o palco minutos antes de Katy, também havia passado ao longo do seu concerto algumas mensagens de auto-amor. 
Foto: Agência Zero

Outro momento de grande euforia foi o famoso “Hot n’ Cold”, no qual a artista surge vestida com um painel digital no peito que vai mostrando as palavras “Hot” e “Cold“. Aproveitando o facto de ter ascendência portuguesa (um dos seus tetravôs é dos Açores), cria um momento de interação brutal com o público, questionando como se dizem estas palavras em português; depois de, em uníssono, todos dizermos “quente” e “frio”, a cantora repete as palavras com um sotaque quase perfeito, tudo isto antes de começar a cantar. 

O concerto contou, ainda, com bastantes temas do seu recente álbum – “Dejá Vu”, “Power”, “Into Me You See”, “Bon Appetit” (esta, com direito a uma pequena mescla com “What Have You Done For Me Lately” de Janet Jackson, em jeito de tributo) e ainda “Pendulum” como uma das músicas do Encore. Nota-se um crescimento, um amadurecimento evidente de Katy enquanto artista, neste seu último trabalho, em comparação com os anteriores. Se, antes, Katy era muito teenage-highschool-pop, neste último álbum a artista revela, aqui, um lado mais obscuro, e com uma certa influência futurística e tecnológica (talvez o tema também ele comercial “Swish Swish” seja o que mais destoa desta vibe geral do novo álbum, regressando às suas origens mais pop e catchy); ainda assim, continua na linha pop, sendo referenciado pela imprensa como Futurepop – uma junção de synthpop com influências de trance. 

Porém, não foram as novas músicas que mais mexeram com o público, foi sim, com os êxitos mais antigos que o pessoal mais vibrou. “ET”, “Wide Awake” e “Roar” – cantada a plenos pulmões, pela Katy e por nós! – e “Fireworks” para o último encore, trouxeram nostalgia aos fãs que a seguem desde sempre. 

E foi com “Fireworks” e, mesmo, com fogo-de-artifício, que terminou mais uma edição deste grande festival.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | The Chemical Brothers – Um verdadeiro assalto aos sentidos

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Há espetáculos que nos prendem desde o primeiro minuto, e a atuação dos The Chemical Brothers é um exemplo disso mesmo. Mais do que simples música, a banda apresenta uma exposição visual incrível, completamente hipnotizante.

The Chemical Brothers no Rock in Rio 2018


“Go” foi o tema eleito para a abertura deste espetáculo – escolha não despropositada pois foi o primeiro single do último álbum Born in Echoes – que acaba por ser muito mais do que um simples concerto. É uma experiência autêntica, do início ao fim. Misturando o género eletrónico com big beat, dance music alternativa e trip-hop (com a sua natureza psicadélica), a banda consegue criar uma sonoridade muito sui generis

Intercalando entre temas que, por si só, já se tornaram históricos na obra dos Chemical Brothers – caso inevitável “Do it Again” do álbum We Are The Night de 2007 (sim… já lá vai uma década), ou indo ainda a hinos mais antigos (“Block Rockin’ Beats”, “Hey Boy Hey Girl” e “Galvanize”) como ainda um cheirinho do que aí virá com a nova “EBW 12”, houve espaço para intrusões à já vasta discografia dos rapazes de Manchester. 

Tom Rowlands e Ed Simons, a dupla que forma esta banda, optam por se esconder ao fundo do palco, algo que é já característico dos dois artistas nas suas atuações ao vivo, deixando o destaque dos seus espetáculos ser os efeitos visuais que apresentam, em detrimento de si mesmos. E que espetáculos! Fascinantes, tema após tema, o que se apresenta diante dos olhos do público, puxando por todos os sentidos, sempre com vídeos e efeitos visuais altamente apelativos. Tanto, ao ponto da música em si quase ser secundária, mas fazer ainda mais sentido. 

The Chemical Brothers no Rock in Rio 2018

Outra característica dos concertos de The Chemical Brothers: a sensação de continuidade; quase não existe “intervalo” entre as músicas, elas estão sempre ligadas de forma fluída. Uma sensação de expansão – como se sente bem presente nos temas “Escape Velocity” e “Snow/Surface to Air” – é também uma constante. 

 A música, essa, é feita como que por camadas: começa devagar, de forma básica mas (muito) apelativa, quase previsível… até deixar de o ser, com o acrescentar progressivo de novos sons e batidas. Minimalista conquista-nos até nos assoberbar. E se isto já é arrebatador nos álbuns da banda, ao vivo é ainda melhor, como um exponenciar de sentidos, cada batida que fazia estremecer o chão e entrava no nosso corpo. Isto, com toques psicadélicos de sintetizadores a tocar numa espécie de madness

 No final, a sensação com que sai dum concerto dos The Chemical Brothers é sempre a mesma: um verdadeiro assalto aos sentidos. E o mais impressionante é que a sensação já perdura há uns longos 23 anos.

Crítica escrita para o site Echo Boomer.


quinta-feira, 28 de junho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Bruno Mars – Funk & Fogo de Artifício

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Rock in Rio Lisboa 2018 | Bruno Mars – Funk & Fogo de Artifício


Bruno Mars é, frequentemente, referenciado pela imprensa como sendo o novo Rei do Pop. Uma comparação clara e direta ao grande Michael Jackson. Ainda que seja uma comparação algo ousada (e muito subjetiva), facto é que os trabalhos artísticos de ambos partilham particularidades muito próprias, misturando estilos como pop, funk, soul, blues, R&B, synthpop e uma pitada de hip-hop, formando tons e ritmos únicos e tornando as obras de ambos extremamente completas. Já para não falar no enorme carisma que têem os dois artistas, assim como a excelente habilidade para a dança. 

Talvez por ser comparado a tão grandiosa figura artística, sendo nomeadamente vencedor de inúmeros prémios, Bruno Mars é uma das sensações do momento e foi o único que, este ano, esgotou a lotação máxima do parque da Bela Vista. “Finesse”, o seu mais recente single, é o tema de abertura, trazendo a 2018 sons dos anos 90, com a sua linha de bateria constante acompanhada de efeitos sonóricos nostálgicos. O mote para um concerto todo ele marcado por uma onda old school e funk constantes – como, de resto, está presente um pouco por todos os álbuns do artista. 

Segue-se outro grande êxito do momento, “24K Magic” - numa mistura daquela vibe old school muito própria dele, mas com elementos muito atuais – voltando, de seguida, ao seu álbum anterior, com “Treasure”. Sempre numa onda de energia e boa disposição, temas como “Perm” e “Chunky” levam o público ao rubro. 

Para além das músicas, os efeitos de luzes foram também uma constante, criando um cenário visual impressionante – incluíndo espectáculos de pirotecnia e fogos-de-artifício não só fora, como dentro do palco, no seu expoente máximo duante o tema “Locked Out of Heaven”. Afinal, que mais pede a música de Bruno Mars, que não festa, confettis e alegria, numa atitude de felicidade contagiosa?! Uma energia absolutamente incrível. 

E com um “Lisbon! Come On!” adivinha-se outro grande hit, “That’s What I Like”, levando quase ao êxtase os fãs mais apaixonados... por um artista com um charme incrível e um talento impressionante! Este tema foi muito bem interpretado, com um final em acapella fascinante, back vocals masculinos, numa onda apaixonadamente soul. Aqui se notou bem a interação que Bruno tem com a sua banda, composta por cinco músicos, dançarinos e artistas; tão fluída, tão bem orquestrada e sincronizada, capaz de trazer um fluxo de energia extraordinário que transparece e contagia quem assiste. 


Mas nem só de êxtase e entusiasmo se fez este concerto. Numa onda mais romântica (e, lá está, nunca é demais repetir, extremamente soul-funk), as baladas “Calling All My Lovelies”, “Versace On The Floor” (antecedido por um solo de saxofone absolutamente maravilhoso) e “When I Was Your Man” fizeram as delícias dos corações mais apaixonados da plateia, cujas lanternas do telemóvel conseguiram iluminar todo o espaço de recinto em frente ao palco. Especialmente em “When I Was Your Man”, canção que o artista canta praticamente em acapella, acompanhado apenas pelo coro da sua vasta legião de fãs. Floreando e prolongando-se em cada final de cada balada, presenteando-nos com repetições do refrão e arranjos vocais elaborados a solo e em coro, pejados de romantismo e até meio cheesy, que faz lembrar os não menos míticos no mundo pop/soul, Boyz II Man. 

Ainda que este concerto se tenha centrado maioritariamente no seu mais recente álbum, 24k Magic, o artista não podia deixar de nos brindar com alguns dos seus temas de sucesso mais antigos, entre os quais “Runaway Baby”, “Just The Way You Are” e “Marry You” (as três do seu primeiro álbum), – com direito a uma breve atuação só em guitarra (num primeiro momento, a solo), mostrando mais uma vez, que Bruno Mars é um jovem artista muito versátil nos seus talentos. 

E após um show deslumbrante e muito, muito intenso, para o já tão esperado Encore, tivemos um outro grande êxito: “Uptown Funk”. Como era de esperar, um dos momentos mais UP da noite. Para acabar este show de funk, literalmente, em altas! 

Bruno Mars trouxe funk, fogo de artifício e extravagância a Lisboa. Desaparece, agora, por detrás de uma enorme nuvem de fumo branco. Rebuscado, como ele é.

Cláudia Silva - Texto escrito para o site Echo Boomer.


terça-feira, 26 de junho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Demi Lovato – Toda a garra do mundo na sua voz

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Demi Lovato


Se há palavra que descreve, na perfeição, Demi Lovato, essa palavra é (e à falta de melhor tradução em português) fierceness. E é com essa fierceness que a artista sobre ao Palco Mundo do Rock in Rio-Lisboa, e abre o espetáculo – o primeiro de Demi em Portugal – com o tema “Confident”. “What’s wrong with being confident?” é a frase que é repetida no refrão, mostrando que estamos perante uma mulher confiante em si mesma, com uma indescritível e contagiosa atitude de poder. Muito girl-power-like, de uma artista que começou como atriz infantil na Disney, e se transformou na mulher que é hoje.

Segue-se o grande hit “Cool For The Summer” – com uma atitude bem atrevida acompanhada de sintetizadores bem garridos, eis mais um tema extremamente atual e catchy. Em “Heart Attack”, conseguimos perceber claramente (tanto ao vivo, como no tema original do álbum) a influência power pop – um subgénero de rock caracterizado pelo uso de melodias fortes que, combinadas com riffs de guitarras, formam uma estrutura rítima característica do hard rock mas com uma sonoridade extremamente pop – bem presente no trabalho da artista. Mas foi “Neon Lights” que pôs a plateia da Bela Vista (completamente lotada, por sinal) aos pulos, literalmente.


Demi não é de falar muito com o público mas, após uma ou outra palavra mais tímida, brinda-nos então com dois temas muito dançáveis e apelativos – “Sexy Dirty Love” e “Daddy Issues” – intercalados com a naughty “Games” e a pop punk “Really Don’t Care”.

Em contraste com, por exemplo, uma das suas conterrâneas – Ariana Grande, com aquela sua doçura imensa – Demi apresenta um timbre de voz mais seco, salgado (por oposição ao doce). Esta característica da sua voz é clara mesmo nas suas baladas mais melancólicas, tais como “Concentrate”, “Don’t Forget”, “Sober” (esta última escrita pela própria, a propósito do seu histórico de vício em drogas, e lançada há apenas cinco dias), a tão conhecida e badalada “Stone Cold” – cuja primeira estrofe toda a gente sabia de cor, e quantas lágrimas não rolaram! – e “Scyscraper” (uma das canções mais bonitas que ela já fez). 

Após uma mudança de vestuário, o show continua, e muito bem, com um dos temas mais comerciais do momento, “Promise me no Promises” (originalmente de Cheat Codes, e na qual Demi participou). Seguem-se “Échame la culpa” e “Solo”, dois momentos dos mais festejados, mas que destoaram, por completo, de todo o concerto. O reggaeton característico destes dois temas em nada se encaixa no resto do repertório, o que acabou por ficar um pouco fora de contexto. 

Mas terminou em grande, com “Tell Me You Love Me” e “Sorry Not Sorry”, com back vocals que encheram ainda mais duas músicas já de si tão cheias de power, e que fizeram as delícias para os fãs mais acérrimos.






Ainda que esteja longe de ser uma das melhores vocalistas pop (quando comparada, por exemplo, a outros nomes atuais como Christina Aguilera ou Beyoncé), e ter ainda muito por onde crescer, é de destacar que Demi canta de forma irrepreensívelmente afinada, tendo conseguido superar as notas mais desafiantes, mesmo ao vivo. 

Quase, quase o suficiente para nos fazer arrepiar. Ainda não chegou lá, mas tem muito potencial. O que não lhe falta é, certamente, a tal fierceness para ser vencedora no que faz!

Texto original para Echo Boomer.


segunda-feira, 25 de junho de 2018

Rock in Rio Lisboa 2018 | Carolina Deslandes – O Dia Mais Feliz das Nossas Vidas

Review do concerto para o site Echo Boomer.
Autoria: Cláudia Silva

Carolina Deslandes  

Carolina Deslandes é, atualmente, um das figuras artísticas mais reconhecidas no panorama musical nacional. Tendo iniciado o seu percurso no concurso de talentos Ídolos, em 2010, já nesta altura demonstrava um talento que prometia. 

Prometia e cumpriu. Em 2016, lança o seu primeiro álbum de estúdio, Blossom. Tal como o nome indica, representava a desabrochar de Carolina enquanto artista, mas também enquanto mulher. Num registo muito pop electrónico, conta com um conjunto de temas bastante atual, jovem, teen, contemporâneo, irreverente até. E foi precisamente com um tema do álbum Blossom que Carolina Deslandes abriu o seu concerto no palco Music Valley, do Rock in Rio-Lisboa, no final da tarde deste primeiro dia de festival. 

Apenas com o instrumental de “What Do You Know, Boy?” – percetível certamente apenas aos mais atentos e conhecedores deste seu primeiro álbum, Carolina entra e é recebida com euforia, e o concerto prossegue dentro do mesmo registo, com os cativantes temas “Fuse” e “Carousel”, iniciando, assim, o concerto numa high-note e com sentimentos de positivismo e alegria. Após um breve discurso e agradecimento da artista, que mal acreditava estar a pisar um palco deste reconhecido festival, Carolina dá as boas-vindas ao seu público de uma forma muito sua: “Sejam bem-vindos ao dia mais feliz das nossas vidas!”. 

Ainda do seu primeiro álbum, tivemos o tema “Mountains”, um dos seus singles mais conhecidos, em parceria com o Agir – amigo que, afirma com emoção, ter sido a pessoa que fez com que ela voltasse a abraçar a sua carreira, num momento em que não tinha perspetivas nem esperança – e “Heaven”, balada dedicada ao seu falecido avô, em jeito de homenagem. 

Até agora, Carolina apresentou ao público dois álbuns que marcam por serem contrastantes. Se o primeiro (Blossom) é claramente mais pop, dançável, eletrónico – registo com o qual abriu este concerto – já o segundo é, como o próprio título indica, um regresso a Casa. Se, no primeiro álbum, a artista quis sair da sua zona de conforto, arriscar, procurar incluir inspirações do panorama musical comercial atual (Rihanna, por exemplo), no álbum Casa, Carolina surge mais aquilo que ela é. A Casa é, sem dúvida, aquilo que ela é. Uma singer-songwriter pejada de emocionalismo, de amor, de verdade, com muitas influências de música brasileira e bossa nova, com melancolia, que fala do coração dela diretamente ao coração dos outros. 

Diogo Clemente – pessoa com quem, afirma Carolina, “fez música e filhos” (risos do público) – entra em palco para um emocionante dueto, com a canção simplesmente amorosa “Coisa Mais Bonita”. Ainda muito dentro deste registo, tivemos o prazer de ouvir as deliciosas canções “A Miúda Gosta” e “Não Me Deixes” (com a convidada especial Maro, também ela uma excelente vocalista). Mas foi mesmo com “A Vida Toda” que o público vibrou – Carolina confidencia que um dos sonhos dela era um dia ser uma artista que tivesse “pelo menos uma música que toda a gente soubesse cantar por ela”, e conseguiu-o muito bem, não só com “A Vida Toda”, como também com “Avião de Papel”. E Carolina agradece, a nós, ao universo, por estar ali, e por “fazermos da nossa casa, a casa dela”.

Carolina mostra, ainda, ser uma artista versátil, ao presentear o público com um medley de covers, nomeadamente Britney Spears, Da Weasel, Ornatos Violeta e Dillaz. 

É de destacar a componente extremamente humana de Carolina. Um dos motivos para ela ser tão acarinhada pelo seu público é, sem dúvida, a intimidade que ela tem com quem segue o trabalho dela, a emoção e autenticidade com que ela faz tudo e se mostra ao mundo. Foi sempre com emoção que, ao longo deste concerto, Carolina interagiu com o público com um enorme sentimento de gratidão, por saber que são aquelas pessoas que alimentam o sonho dela. Sempre com uma genuinidade deliciosa, tão própria dela, a artista partilha lágrimas ao vivo, afirmando que ainda nem consegue acreditar que está a cumprir este sonho na vida dela. E deixa o seu público feliz, feliz por ela!

Texto original para o site Echo Boomer.


segunda-feira, 28 de maio de 2018

Why sometimes less is more - A dissertation on the love of music and other things


Nota: o post que se segue é escrito em inglês. Ainda não me decidi se o vou reescrever na nossa língua materna, mas, para os que não se importam com pontuação, gramática, contexto e outros pormenores que tais, podem sempre pegar no link do post (https://uncertainsmilex.blogspot.pt/2018/05/why-sometimes-less-is-more-dissertation.html) e ir ao Google Translate. Bem sei que se perde toda a intimidade... but that's the future, no? 😛


As some of you might know or have figured it out, I like to discover new music and a little more than a decade ago I found out my favourite way to do it: by reading blogs! I use to read a few blogs of people that wanted to share their music.

Now, for a short story:

In late 2013 while browsing around - can't really remember where - I found this brilliant piece of synth-pop:

Ranger by Me and Karen



This song really captivated me. It was one of those songs that I immediately wanted to share with my friends and father (which I did!) and made me look for whatever other songs these guys - Me and Karen (https://soundcloud.com/meandkaren) - had. 

4 songs. And that was it. Problem? They're all very good! So, predictably,  I kept listening to the same 4 songs very intensively for months and - now for a bit of trivia about me and her - by March of 2014, Cláudia and me were getting to know each other and "Ranger" was among the first songs I showed her. And expectedly enough, Cláudia, as a true lover of pop as it is, also was hooked on all of the songs by Me and Karen.

A few months later on an EP appeared on their Soundclound but alas... nothing more ever since. Cláudia and myself kept on listening to them but, naturally, the airplay had shifted to other things and Me and Karen songs went from recursive to frequent to occasional a year after.

Fast-forwarding to a few Saturdays ago: Me and Karen start playing - shuffle, how I love you sometimes - and we had that same reaction "Ohhh... this song!!" (and I also had a bit of a laugh trying to make Cláudia's forgotten mind about the name of the band) and I went to their Facebook and Soundcloud pages... nada! Nothing new to see.

But then, just a few days later, someone just contacted me:




 Michael Bartlett - one of the minds behind Me and Karen (the other being Karen, obviously)


Michael wanted me to know (and Cláudia, as well) he had made a new song under his new guise Bruce James!!

(https://soundcloud.com/brucejamestunes/plastic - a very cool synthwave tune!)

This was really nice of him and truly an unexpected coincidence given the story above! 😃 (and the reason that made me want to write this lengthy post)

Eventually we chatted up a bit and I found out they also doing more work in another band, a more progressive-rock act called Oh So Peligroso (https://soundcloud.com/ohsopeligroso), and other bits and pieces regarding his work.

It's funny how, sometimes, one doesn't realise the fact that showing someone appreciation  - even if by a inconsequent (!) like on a band Facebook page - of their work is important enough so they can continue sharing with us the fruition of their creations. I can surely understand why Michael approached me in the first place: it's much more easy to share with someone who has showed appreciation before. According to Michael, me and Cláudia were some of their non-family-and-friends fans. 

One thought came to my mind: a remembrance that not every artist gets instant recognition of their work, as good and relevant as it is (and should be). Along with it came the fact/judgement: having more ways and opportunity to show yourself to the world is not a guarantee that it will happen.

 As for me... I'd be very happy if someone would share the same fondness for these wonderful artists. 



segunda-feira, 21 de maio de 2018

Sam Smith na Altice Arena: A magia do soul-pop gospel


Por muitas palavras que pudesse utilizar, nunca nenhuma seria suficiente para descrever a intensidade e majestosidade que marcou este grande concerto de Sam Smith, o primeiro em nome próprio em Lisboa, último da tour “The Thrill Of It All” e a umas meras duas horas do dia do seu 26º aniversário.

Talvez por isso o artista tenha surgido com uma energia surpreendente e avassaladora, numa envolvente cinematográfica, sentado e dobrado sobre si mesmo num alçapão que surge lentamente desde dentro do palco, com o tema “Burning”, iniciado em acapella. Um tema pejado de espiritualismo, quase como um drama envagélico, algo que, de resto, se faz sentir bem ao longo de todo o álbum The Thrill Of It All. Eis um álbum que transborda emoção, que aborda temas como a miséria do amor, a tragédia, a prostração e a autopiedade. Dramático, angustiante e muito profético, recorrendo à presença constante de elementos religiosos e back vocals que remetem para o gospel, bastante mais presentes, devo referir, ao vivo do que no próprio álbum.



A voz de Sam é, tal como a sua presença, majestosa, rica, que nos enche a alma de dentro para fora, literalmente. Envolta em toda uma aura de charme e de romantismo, capaz de apaixonar qualquer coração mais mole, cada nota faz-nos sentir que aquele momento é uma questão de vida ou morte, especialmente as mais agudas e tão perfeitamente afinadas, que nos fazem sentir on the edge, verdadeiramente capazes de provocar arrepios.

Num tom totalmente diferente, bastante mais leve e expansivo, seguem-se dois dos seus temas mais conhecidos, “One Last Song” e a maravilhosa “Crazy”. Foi, no mínimo, mágico e comovente ver tanta gente a cantar em uníssono estes temas.

Porque Sam Smith é um cantor de baladas pop por excelência, não podíamos deixar de ter o prazer de ouvir as maravilhosas canções “Lay Me Down”, “Nirvana”, “Say It First” e “Midnight Train”. Sabem aquelas músicas tristes mas felizes ao mesmo tempo, que quase (ou não apenas quase) nos fazem chorar? É isso. Até mesmo o tema “Latch”, em colaboração com Disclosure e originalmente um tema mais disco e dançável, é aqui apresentada como uma balada de lounge, despojada de batidas e linhas de baixo low key.

Ainda que Sam mostre bastante a sua alma pop sombria, existe um outro lado: o pop mais funky, com bastantes influências RnB e eletrónica. Foi com essa promessa que surgiram temas como “Omen” (mais uma vez em colaboração com Disclosure), “Money On My Mind” e “Restart” – sendo estas duas últimas, na minha opinião, dois dos melhores e mais catchy temas do artista, muito inspiradas no pop dos anos 90.

Voltando ao clima espiritual, surge o tema “HIM”, uma representação da homofobia religiosa, genuinamente poderosa e comovente. Como que numa oração, Sam aborda – com um franco tom vocal de desolação – o tema da homosexualidade assumida, algo que, até agora, tinha mantido fora da sua carreira artística. Em “The Thrill Of It All”, Sam inclui este tema, num gesto de transparência total e desafiando a posição da igreja quanto a este assunto, declarando “Holy Father, we need to talk / I have a secret that I can’t keep / I’m not the boy that you thought you wanted / Please don’t get angry, have faith in me (…) It is him I love / It is him” – sendo assertivo na sua palavra final e ao assumir claramente a sua posição. A meio da canção, Sam deixa uma mensagem ao seu público, afirmando: “Escrevi esta canção como uma mensagem para todos os que estão a ouvir: Amor é Amor!”. Foi um dos momentos mais imponentes de toda a noite.

Por esta altura, o acumular de emoções já pesava. Desde as canções soul-pop mais baladadas, nostálgicas e muito amorosas, aos ritmos funk mais dançáveis, sempre com aqueles maravilhosos back vocals que deram a todo o concerto um poderoso sabor gospel, muitas lágrimas já tinham rolado. Mas ainda tínhamos espaço para mais um pouco.

E Sam não desiludiu. Para dizer – literalmente – adeus, presenteou-nos com um dos seus mais conhecidos singles, o cativante “Too Good At Goodbyes”, na qual nos convidou a cantar vezes sem conta o refrão, e onde se demorou a dar o seu adeus final… até, claro, ao momento do encore.

Um encore que contou com os temas “One Day At a Time”, “Stay With Me” – se ainda havia lágrimas para chorar, só faltavam mesmo estes temas – e “Pray”, para terminar esta noite em grande; um dos meus temas favoritos, absolutamente grandioso, poderoso, divinal. Diria até mesmo épico.

E assim termina o espetáculo, voltando o artista ao ponto em que começou, no alçapão, sentado na sua cadeira solitária, com as mãos entrelaçadas, erguido sobre si mesmo como quem carrega em si a dor do mundo, desaparecendo para dentro do palco.

Sam Smith é a personificação perfeita de artista pop, reunindo fatores essenciais tais como um carisma incrível, simpatia extrema e humildade, uma voz brutal (capaz de dominar falsetes com uma facilidade impressionante) e uma presença incrível em palco. Fez-me querer continuar a ouvir, mesmo depois do concerto. E foi isso mesmo que fiz.


Uma palavra para resumir esta noite? É uma palavra muito, muito simples: linda.

Crítica escrita para o site Echo Boomer.